terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.


Clarisse Lispector

domingo, 6 de janeiro de 2008

Quando o sonho deixa de ser sonho?


Quando pisou na rodoviária ela não sabia exatamente para onde olhar, para onde ir. Resolveu então pegar sua mochila grande e pesada e sentar-se no primeiro banco de concreto que viu a sua frente e esperar. Ela sabia que a qualquer momento ele viria.
Ela tremia, não sabia se era exatamente de frio ou de ansiedade e todo o sono e o cansaço desaparecia instantaneamente do seu corpo. A curiosidade por estar numa desconhecida cidade a espera de uma pessoa que para ela era tão especial era visível.
Ele chegou atrasado, com seu inconfundível jeito de andar e o timbre de voz que a fez abrir um sorriso. Abraçaram-se.
A partir desse momento as horas se transformaram instantaneamente em segundos e assim permaneceu pelos próximos 8 dias.
Ela se sentia bem, feliz ao ponto de querer segurar uma gargalhada de alegria.
Estar naquele lugar, participando de situações cotidianas que era andar pelas ruas, comer um sanduíche e assisti uma pelada de futebol dos amigos do bairro a fazia se sentir confortável o suficiente para não querer que o tempo passasse, queria guardar cada instante em sua memória pois ela sabia que tudo aquilo seria único e já inesquecível.
A viagem do dia seguinte seria o começo de mais uma aventura na vida dela, o desconhecido, a incerteza que viria nos próximos dias deixava uma sensação de apreenção, mas ao mesmo tempo havia uma segurança por saber que ele estava ali por perto.
Chegando ao destino todos estavam muito cansados, famintos. Ela se sentia extremamente curiosa pra descobrir o que estava por vir, sedenta também para consumir parte da cerveja que estava aos seus pés a espera de ser carregada. Ela se conteve, olhou para a praia onde a cada minuto chegava novos barcos cheio de turistas, olhava para o céu e via que havia poucas nurvens e isso era um ótimo sinal seu desejo estavam no caminho certo.
Depois de montar o acampamento com um incrível esforço e de ter matado a fome com um bom almoço, ela correu para praia e entrou na água. Temperatura perfeita e o sol brilhando forte. Ali ela teve que se beliscar precisando saber se tudo não passava de um sonho, aquela garota boiando no mar não conseguia acreditar que estava tão longe de casa, num lugar tão lindo perto da pessoa que ela mais gostava.
Não ventava muito, a areia era grossa, a água limpa e por alguma explicação física ou biológica os banhistas não conseguiam afundar com facilidade, era fácil vê peixinhos no fundo do mar junto com algumas conchas e restos de peixes mortos. Os nativos estavam sempre por perto, sejam em seus barcos, nadando ou servindo e informando os turistas. Todos tinham uma pele enrugada e dourada, olhos claros e cabelos levemente queimados pelo sol e pela água do mar. Cuidavam de sua praia com certo carinho e eram bastante observadores. A especialidade da região provavelmente seria a comida que vinha do mar. Uma comida maravilhosa não muito temperada que chamava atenção até daquele que possuia a mínima fome.
O sol parecia está a cada dia mais forte, nenhum sinal de chuva e o tempo passava rapidamente. Nem a repetição dos programas que variavam entre um lual a noite, alguns dias de forró universitário e jogos de peteca, vôlei e pique bandeira fazia os dias e as noites serem tediosos. Pelo contrário, o consumo de álcool num intervalo e outro e até mesmo o que antes ela achava ser um monótono jogo de cartas a fez se sentir relaxada e feliz.
Naquele lugar ela teve a oportunidade de conhecer lentamente pessoas de várias partes do Brasil e do mundo o que fazia o passeio ser ainda mais interessante. Ela achava engraçado está num lugar onde havia pessoas que possuia opiniões e gostos tão parecidos e ao mesmo tempo alguns tão distintos e distantes. E todos ali, se dando tão bem era curioso. Talvez fosse pelo clima de confraternização e a chegada de um novo ano que as pessoas se sentiam dispostas e abertas ao novo. Tudo ali era novo.
Mas nem tudo fazia a garota se sempre segura e feliz e a culpa era totalmente dela, a culpa era toda da insegurança que ela tinha em sua cabeça. Em algum momento em sua vida aquela garota aprendeu que quando tudo está muito bom é sinal para começar a desconfiar do perfeito. Criou-se uma teoria que se você conhecer o que pode vir a qualquer momento te machucar, aparentemente a dor pode ser menor e o sofrimento também. Ela estava atenta a todos os tipos de sinais e a interpretação cabia somente a ela, sem as vezes a oportunidade e a coragem para tirar suas dúvidas.
Para ela tudo ali parecia ser tão surreal e mágico que as vezes ela sentia medo de acordar e interromper um sonho perfeito. Por diversas vezes passava em sua cabeça que tudo que ela sentia e demonstrava para aquele garoto não era necessariamente recíproco e que em algum momento ele estaria incomodado ou arrependido. O ambiente talvez não era o ideal para ele e por isso ele não estava curtindo tudo como ela. Achava que o coração daquela pessoa não estava totalmente desocupado por outra pessoa e talvez não era a hora certa para ela entrar e se acomodar daquela maneira. Ela achava também que possuia um sonho que era BEM maior do que ele poderia imaginar ou querer, achava que mesmo ele estando ali e ter demostrado materialmente o quando gosta dela tudo poderia ser transformado em simples coisas que podem não fazer nenhum sentido daqui alguns dias, meses ou anos. Ela não queria achar que esta invadindo um espaço onde ainda não tinha sido convidada. Sentia medo do desconhecido, do omitido, do distorcido, do futuro e quando isso acontecia ela procurava rapidamente alguma coisa para apagar tais pensamentos para ninguém perceber sua preocupação. Tudo estava em sua cabeça e de vez em quando ela se sentia ridícula por está perdendo seu tempo pensando em tais coisas em vez de está ali curtindo o presente que afinal, era o que importava.
Mesmo assim em 8 dias ela teve a certeza que o que ela achava antes estar sentindo era a mais pura verdade, ela estava sim apaixonada por aquela querida companhia e isso a fazia sorrir e chorar de felicidade por diversas vezes. Ela descobriu que não era o lugar, nem somente as pessoas que estavam por perto, nem a comida, nem o clima de verão e calor que ela adora, muito menos o efeito do álcool e os últimos minutos de um ano mágico na vida dela que eram responsáveis por aquele estado de felicidade. Era a simples presença daquele garoto, uma pessoa que há tanto tempo ela sonhava, tanto tempo ela esperava e que estava ali, na sua frente reclamando da água do mar, do sol excessivo, das dores nas costas, da cerveja quente, da areia, do cansaço, da bateria do celular, do incômodo da barba grande, da saudade do conforto de casa, dos amigos e da mamãe. Ela sentia que não importava o lugar e nem o conjunto de fatores que poderia deixar aquele ou qualquer outro lugar perfeito, o que realmente fazia a diferença era ele sorrindo ou sério, dormindo ou tremendo de frio ali perto dela transmitindo paz. Não houve um só momento em que ela não o olhava de longe ou de perto e pensava: "Preciso guardar esse momento para o resto da minha vida". Se ela tivesse o poder de registrar tudo aos mínimos detalhes e ser capaz de descrever fielmente tudo que ela sentiu, viu e ouviu para seus amigos, filhos e netos ela sabia que valeria a pena ter vivido. Em 8 dias ela entendeu o que as pessoas tentam dizer que são as coisas simples da vida que nos trazem tanta alegria.

Bubbly - Colbie Caillat

Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa.

Mario Quintana

Quem nunca?

Quem nunca escreveu seu nome junto do de alguém numa folha de caderno?
Quem nunca ficou fazendo planos deitado na cama antes de dormir?
Quem nunca leu e releu um histórico de msn e lembrou como se tivesse sido aquela hora?
Quem nunca olhou uma foto e pensou como seria se você estivesse lá?
Quem nunca quis voltar no tempo para corrigir o que ficou com medo de fazer?
Quem nunca precisou ouvir um elogio para se sentir bem? Quem nunca falou alguma coisa e se arrependeu depois?
Quem nunca teve um sonho perfeito e ficou puto de ter acordado?
Quem nunca ouviu uma música e lembrou de alguém?
Quem nunca olhou pro celular achando que era ele quando na verdade era sua mãe?
Quem nunca ficou chateado por um motivo ridículo e prometeu que não ia mais gostar de quem te fez sofrer, mas em vão?
Quem nunca se iludiu? Quem nunca teve vontade de sumir e só voltar quando tudo estivesse bem?
Quem nunca viu um filme de romance e quis ser feliz pra sempre? Quem nunca quis ser feliz?