terça-feira, 10 de abril de 2007

O historiador

Eu sempre tive medo de escrever sobre pessoas, sejam elas queridas ou não, num espaço público. Tenho medo da interpretação, da exposição e principalmente da reação de cada uma delas. Mas sinceramente? Quero deixar isso de lado, seja lá o que sair aqui será a minha opinião e isso poucas pessoas poderão mudar. Mesmo assim, essa tarefa deverá vir com argumentos bem convincentes.

Em 2005 eu estava prestes a entrar num cursinho conhecido na Grande Vitória, enquanto isso não acontecia, eu preenchia meu tempo na internet conversando com alguns amigos e com amigos de alguns amigos. Através dela eu conheci pessoas novas e interessantes que entre outras coisas estavam prestes a fazer o mesmo que eu: traçar uma meta e correr atrás do objetivo que no caso seria entrar numa faculdade pública.
A pessoa conhecida possuía características que eu me identificava: mesmo gosto musical, planos, sonhos, senso de humor e timidez. A internet e o telefone facilitaram essa aproximação e com o inicio das aulas do cursinho foi possível estar ainda mais próximo um do outro.
Estudávamos em escolas diferentes, tínhamos horários diferentes, mas mesmo com o transtorno que era utilizar o transporte público, procurar tempo e um lugar confortável e tranqüilo para nos ver sem a intromissão dos nossos responsáveis, hoje, posso dizer que esses foram problemas até agradáveis e divertidos.

No início, com ele antes de qualquer coisa, antes do "tesão" e afinidade que sentíamos um pelo outro, éramos acima de tudo amigos, muito amigos. Conversávamos sobre tudo e todos, confidenciávamos nossos problemas sentimentais e sociais. Juntos estávamos vulneráveis ao ponto de se precisar, ter coragem e liberdade de chorar.
E assim foi o ano de 2005. Problemas eram inevitáveis, ciúmes e até o efêmero encantamento por outras pessoas fazia a relação parecer estar a caminho do fim.
Na verdade pra mim o fim veio no momento em que nossos gostos e opiniões começaram a se divergir, não havia mais cumplicidade e aquele encantamento do inicio, apenas uma atração sexual e isso não foi suficiente pra manter uma relação quase inexististe prejudicada pela rotina e pelos compromissos "mais importantes".


Uma vez conversando no sofá do meu ex-apê-república eu falei que uma das coisas mais legais que até então tínhamos era a amizade, mesmo sabendo que ele estava longe em outro estado tínhamos um breve momento de bate papo e descontração e isso me lembrava a relação que tenho hoje com alguns amigos. Grande engano. Ele deixou bem claro que o que tínhamos poderia ser chamado de qualquer coisa, menos amizade foi então que eu acordei.
O fato era que eu estava apaixonadinha, mas infeliz com o que recebia. Toda minha impaciência, egoísmo aliada ao estresse que era a reta final do vestibular me fez força-lo a fazer escolhas. E esses tipos de escolhas eram simples demais para uma pessoa que assim com eu possui uma habilidade incrível de avaliar os fatos da forma mais racional e prática possível. Forma que até hoje eu admiro. E a escolha foi a correta. Hoje ele continua longe, mas por ironia do destino na mesma universidade que hoje estou matriculada, e ninguém acredita que ele não teve influencia na minha inscrição nela. Nossos mundos, gostos, objetivos mudaram.

Lembro que depois do fim canalizei minha frustração para as apostilas, para as baladas com as amigas e coloquei na cabeça que há certos relacionamentos que não eram para darem certo. Aceitei a teoria que com a minha idade eu deveria me divertir e me relacionar de forma prática, racional e rápida focando apenas o que interessa. Um tipo de egoísmo ridículo que eu custo em compreender nessa tal sociedade que eu faço parte.
Não temos mais contato, as últimas notícias que soube é que ele arranjou uma namorada linda que aparentemente o faz imensamente feliz, fez novos amigos e fez questão de otimizar seu tempo para as coisas e pessoas que efetivamente conseguem dá um rumo mais interessante e agitado em sua vida. Pelo visto a racionalidade foi usada mais uma vez e é exatamente esse atributo, junto com a coragem e a perseverança que eu absorvi desse cara que hoje não passa de um simples conhecido no Orkut.
Eu não poderia terminar o texto culpando-o ou colocando a responsabilidade sobre mim. Tudo foi tão natural e saudável que hoje me faz ter essa nostalgia gostosa de querer voltar ao tempo apenas para resgatar aquela amizade que tinha tudo para durar e ser linda. Vamos se vamos conseguir.

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