Há quase um ano, aliás, mais de um ano exatamente eu estava me mudando. Saindo (mais uma vez) da casa dos pais e ir atrás de um sonho. A tal universidade pública. Consegui. E ali tão longe encontrei amigos. Fui parar numa cidade totalmente desconhecida onde eu não sabia exatamente pra onde eu deveria me virar logo após de pôr os pés na rodoviária. Tive ajuda de desconhecidos, aprendi que dinheiro não cai do céu, que cada real era importante e que meus pais ainda batalharam muito para mandar tudo de lá pra mim. Não aprendi a cozinhar, mas a sobreviver com comidas gordurosas e instantâneas. Aprendi a não sujar muita roupa todos os dias. Sim, a preguiça sempre existiu, mas com ela também aprendi que se não me levantar daquela cama eu vou me ferrar sozinha e eu não estava ali pra isso. Aprendi que morar em república com garotas desconhecidas é divertido, mas também muito estressante. Depois que você encontra uma amizade pura ali você se sente realmente em casa. E dentre tantas coisas que já enumerei e que não me vem na memória agora, aprendi o mais importante, algo pra vida. Eu simplesmente aprendi a sentir. Senti muitas coisas. Saudade, vontade de ficar só, vontade de está no meio da multidão de amigos, vontade de chorar, de rir descontroladamente, vontade de ligar para mãe, pai, irmão e amigos pra contar cada detalhe, cada coisa diferente, cada novidade que me fez naquele momento meus olhos brilharem, meu coração disparar, que me deu água na boca, me fez bem ou até mal de alguma forma.
Fui para o Rio com toda disposição de me adaptar às mudança que aconteciam espontaneamente. E Mudei. Mudei muito. Acho que aquela menina que vivia entre a capital capixaba e a roça natal e que tinha tudo por perto, tanto família quanto os amigos, se viu muito mais apegada às pessoas que realmente se importavam com ela ali. E foi ai que pela primeira vez ocorreu uma das sensações mais fortes, felizes e contraditórias da minha vida. Apaixonei-me por um cara que mesmo longe em outra cidade sempre esteve perto de mim. Apaixonei-me por um cara que mesmo longe possuía todas as qualidades e defeitos que até então eu procurava num cara. A boba se apaixonou, idealizou, amou verdadeiramente pela primeira vez e sabe disso por simplesmente ter passado por um turbilhão de sentimento que vai de um extremo ao outro: A felicidade de ter ele por perto e a tristeza destruidora de não o ter mais ali segurando seus dedos enquanto dormia. Mas tudo passou.
Passou e eu vi tudo de camarote a minha vida virar uma verdadeira bagunça por causa disso. Meu coração estava lá aos pedaços, mas a minha vida continuava lá fora. Os meus amigos, a minha família, meu curso, minha saúde. Quase tudo foi afetado de alguma forma e só agora estou tentando consertar tudo.
Depois de tudo eu pergunto se valeu a pena e eu sinceramente acho que sim. Todo aquele blá blá blá que os livros e os velhos dizem sobre aprendizado, arrependimento, sentimentos eu acredito realmente.
Eu senti, eu mudei, aprendi e ensinei. E depois de toda essa mudança de ambiente, depois de todas as coisas que absorvi das coisas e pessoas que conheci e depois de toda essa alegria e dor que também me veio eu só fecho os olhos e viro tranquilamente mais uma página da minha vida. Não mudaria nada porque eu sei que tudo foi bom pra mim.. pelo menos de alguma forma.
Que venham mais anos no Rio. ..
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