quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Carta para ninguém

Se esqueci meu cheiro por ai, desculpa foi sem querer. Juro que peguei o máximo que podia do que era meu, se alguma coisa ficou foi desatenção ou porque não tinha mais importância. O importante para mim é que finalmente eu vim, sai, eu voltei. Finalmente eu consegui, depois de tantas tentativas, o medo simplesmente deixou de existir, meu amor cansou e resolveu não ligar mais. De tão longe que estávamos, não me faz mais diferença, você se tornou dispensável, um simples acessórios, que eu descartei. Como algo que passou da validade e se torna inútil, mais que isso, prejudicial. Foi-se o fulgor da nossa pele, o desejo da minha pela sua. Foi-se a sensação de segurança que sua presença causou, a saudade do nosso conforto, da nossa cumplicidade que nunca existiu. Acabou o sonho e a vontade, o querer. A vontade de te querer fazer brilhar os olhos acabou por fazendo apagar o brilho dos meus. Tive sede de você e você não se deu para me saciar. Hoje sou eu quem vai, sem maiores apertos no coração ou choro contido, vou livre, de cabeça erguida, vou em paz. De tanto que você não me ouviu, hoje você que não tem os meus ouvidos, de tanto que não me deu atenção, hoje, você que não merece a minha. De tanto esforço que fez para ser inexpressivo, invisível, assim se tornou. De todo o esforço que você fez em não se esforçar, eu pude tirar forças e ir, ir devagar, sorrateira, com cuidado de ir pelo caminho certo e não pisar em espinhos, porque vim com os pés no chão, descalça, entregue. E assim como entrei, saio da sua vida, como um tremendo acaso, com muita luta e desejo. Foi tanto esforço para te ter quanto para me livrar de você. O esforço para te trazer para dentro foi meu, o de te tirar de mim, foi seu. E te senti sair lentamente. De tanta preocupação que você não teve e tantos e tantos outros desleixos, eu me acostumei a não tê-los, não ter nada disso, me acostumei com a solidão (até mesmo a dois), me contentei com minha simples companhia. E hoje te direi "até breve", te vejo em sonhos ou pesadelos, anda duradouro, nada além de uma breve ilusão. Te deixo agora, no momento em penso que mais precisas e depende de mim (coisa que talvez não percebas, ou não seja realmente), sem remorsos de quem nunca te teve presente. Perdeste tua melhor qualidade: meu amor. De tanto que a porta ficou aberta, eu sai, e olhei para trás, para ter certeza de que você não viria até a porta, nem me procuraria, nem pediria para que eu ficasse. Você sempre será o mesmo, o mesmo passivo e infinito homem que nada quis ser (e tudo poderia ser) e ninguém conseguiu tomar para si.





Lívia Ferreira

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